O incrível destino de Betty Boop é traçado nos EEUU no início dos anos 1930 n’um ambiente de proibições e crise económica.
Por um lado, a venda de bebidas alcoólicas tinha sido proibida em 1919 de acordo com a décima oitava emenda da Constituição. Por outro lado, a crise paralisava um país que enfrentava grandes dificuldades para sobrepor-se à queda da bolsa, que decapitou Wall Street depois da célebre “quinta-feira negra” de Outubro de 1929.
A catástrofe financeira alcançou todas as classes sociais, e Betty Boop aparece no momento exato para servir de consolo aos norte-americanos, imersos na reconstrução do seu país.
Em talkarttons e mais tarde em Betty Boop Cartoons, duas séries produzidas pelos irmãos Dave e Max Fleischer, a sedutora Betty encarnará todas as profissões e oferecerá em alguns momentos uma imagem um pouco fria da vida cotidiana da mulher.
Embora como cantora de cabaré ela se mostrasse mais provocadora, na sua primeira aparição na tela não era tão atraente nem usava a extravagante roupa da imagem deste fascículo.
Era o ano de 1930 e Betty já cantava, mas o seu personagem oferecia somente uma caricatura do futuro glamour, pois tinha longas orelhas e boca vermelha como a de uma cachorrinha, apaixonada por Bimbo, a estrela canina dos Estúdios Fleischer... Nasce uma estrela.
É óbvio que a profissão de estrela não está livre de percalços, e a carreira de Betty Boop anunciava-se como especialmente incerta, já que era algo inédito no universo dos cartoons nos EEUU.
De maneira parecida ao que ocorre com as atrizes iniciantes, de talento duvidoso, a princípio teve de se conformar com um papel feminino secundário, sendo totalmente eclipsada pelo cachorro Bimbo, suposta estrela dos primeiros Talkartoons dos irmãos Fleischer, que tentavam com este personagem competir com o bem-sucedido Mickey, produzido pelos estúdios Walt Disney.
Nascida do lápis de Grim Natwick apareceu pela primeira vez nas telas em pleno verão de 1930 em Dizzy Dishes, encarnando uma bailarina de cabaré com longas orelhas caninas e um focinho preto que escondia em parte o seu encanto.
Para a felicidade de Bimbo, com quem parecia estar comprometida, a nova personagem, que ainda não possuía um nome próprio, cantava e representava com muito estilo uma lânguida melodia, tomando emprestado de Helen Kane o imortal “Boop Boop a Doop”.
Nesse momento, ninguém, nem mesmo Dave e Max Fleischer poderiam pensar que um híbrido canino teria um destino tão maravilhoso.
A brilhante ascensão
Conforme avançava a história dos Talkartoons, o cachorro Bimbo e essa nova cantora de longas orelhas iam trocando os seus papéis. A fama do primeiro foi apagando-se irremediavelmente, enquanto a da segunda não parava de crescer.
Até que finalmente, o mundo dos cartoons mostrava-se tão impiedoso como a da sétima arte Hollywoodiana, e logo a ordem dos seus nomes inverteu-se também nos cartazes.
A partir desse momento, a estrela iniciante empreendeu sua metamorfose. N’um crescendo antropomórfico, seus atributos caninos foram desaparecendo pouco a pouco: o focinho se converteu em nariz diminuto e travesso, as longas orelhas transformaram-se em belos brincos.
Somente seus olhos, com um encanto insondável, mantiveram-se sempre igualmente grandes.
Rapidamente se transformaria n’uma sedutora que preenchia a tela, cuja silhueta e traços eram inspirados, em grande medida, em uma mistura caricata das pernas da voluptuosa atriz Mae West, uma das sex-simbol da América dos anos 1930 e do rosto da não menos atraente cantora Helen Kane.
A miniatura
Ela apresenta-se vestida como cantora de cabaré, sua profissão inicial nos Talkarttons dos irmãos Fleischer. Está absolutamente deslumbrante com esse sumptuoso vestido de noite vermelho, símbolo máximo do glamoroso estilo dos anos 1930 nos Estados Unidos.
O boá mal dissimula o seu profundo decote, e o vestido tem uma abertura lateral tão generosa que toca o limite da decência, presenteando a visão com uma perna interminável, deliciosamente traçada, maravilhosamente modelada, que termina com um pé calçado com um sapato de salão que combina com a lingerie de tom carmim, que imaginamos ser confecionada com o tecido mais incandescente.
O cabelo preto cor de carvão da bela jovem parece ter saído diretamente dos anos 1920, e foi inspirado em grande medida no corte à la garçon e enfeitado com múltiplos cachinhos, sem dúvida para o prazer de seus numerosos admiradores.
Os olhos de Betty são enormes, uma característica que muito contribui para o seu encanto e fascinante poder de sedução.
JJ fotos
SALVAT
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