17 maio 2009


Cinema Condes

Inaugurado a 4 de Fevereiro de 1916 no edifício transformado onde funcionou o provisório Teatro Nacional (Teatro da Rua dos Condes), fechou em 1996.

A 17 de Maio de 1947, quando ainda tinha uma distância da primeira fila para o écran de mais de 8 metros devido ao aproveitamento da profundidade de palco, estreia o filme “Capas Negras”, rampa de lançamento no cinema de Amália Rodrigues e que viria a ser um enorme êxito comercial e um dos maiores do cinema português, com 350 exibições, 6 meses em cartaz e cerca de 200 mil espectadores.

Entre os anos 50 e 70, foi uma das mais populares salas de cinema de Lisboa, tendo começado a sua decadência sem que os vários aditivos usados conseguissem evitar o desgaste, com a proliferação dos complexos multisalas na década de 80.

Por lá tudo passou; o Conservatório Geral de Arte Dramática,
o Club Makavenkos (para que conste, nada tinham de macambúzios, eram uma seita jantante) fundado por Francisco de Almeida Grandela e instalado na cave quando ainda era Teatro,
a Rádio Condes lá esteve de 1933 a 1938, altura em que se fundiu com o Clube Radiofónico de Portugal e que (agora uma informação tipo prenda de Natal), foi responsável em Fevereiro de 1934 pela difusão da primeira revista radiofónica - a primeira de Rollim de Macedo.

Como qualquer cidadão de bem, foi-se adaptando e evoluindo com o tempo devido às constantes inovações tecnológicas, como é o caso do Cinemascope, altura em que perde as galerias laterais, o fosso de músicos, o foyer da plateia e obriga à reconstrução dos 1º e 2º balcões e da cabina de projecção, para finalmente se vergar ao estrangulador conceito de Cinema-Estúdio.

Ficam muitas memórias para além das matinés que em puto lá papei, como esta que conta Baptista Bastos e que descobri aqui: “…Fiz toda a espécie de disparates por romantismo.

Mas também fiz coisas belas, que hoje me arrepiam quando delas falo ou nelas penso.

Um dia fui encarregado de lançar uns panfletos no cinema Condes, onde passava o filme ”E tudo o vento levou“.

Fui para lá de gabardina, à Humphrey Bogart, escondendo os papéis. Eu estava no 2º Balcão, e havia outro camarada no 1º.

Um do lado esquerdo, outro do direito.
Lançámos os papéis, estabeleceu-se um burburinho na sala, as luzes acenderam-se, a polícia a apitar, um turbilhão de pessoas a descer pelas escadas, a escapar…”.

Com a compra do edifício pela Bragaparques chegou a temer-se mais um complexo de escritórios ou qualquer merda assim, naquele monumento histórico reconstruído após o terramoto de 1755, felizmente o destino não foi esse, é verdade, e desde o dia 12 de Junho de 2003 é um restaurante de nome internacional, “Hard Rock Café”, conhecido pelas suas peças de colecção (a famosa Memorabilia) onde, entre mais de 30, se destacam o espectacular Cadillac cor-de-rosa de 1959 que pertenceu ao antigo campeão de Indycar, Al Unser Snr e também uma guitarra eléctrica dos Rolling Stones.

A fachada foi restaurada com a traça original e, prestando tributo ao antigo Condes, lá dentro, recriando o ambiente de sala de cinema, estão as cortinas negras de cobertura de tela.

É este o presente concreto que está em cada um de nós.

Publicado por PiresF in "Espreitador
Etiquetas: Cinemas

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