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Touro à corda
na Ilha Terceira - Açores - Portugal
http://www.malhanga.com/videosflash/parte.4/index.htm
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...desta tourada eu gosto !!
É a Terceira a única Ilha do Arquipélago Açoriano onde existem criações de gado bravo não havendo terceirense indiferente a qualquer manifestação taurina ou que não goste ou não se interesse por toiros.
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Por isto mesmo, é um dos divertimentos mais característicos e preferidos pelo povo da Terceira.
Há na Ilha duas espécies de touradas: as de praça e as de corda.
As primeiras são cópias das touradas portuguesas de redondel; as segundas, o toiro corre pela via pública preso pelo pescoço a uma corda de 80 metros de comprido, na extremidade da qual há seis homens que a seguram, fazendo-o parar quando for preciso.
Estes homens usam camisola de linho e geralmente andam descalços ou de sapatas.
As corridas de toiros à corda, verificam-se em qualquer ponto da Ilha, excepto na cidade e o seu número é ilimitado, começando em Maio e acabando em Outubro.
Há as tradicionais, ou sejam as que se realizam todos os anos sempre nos mesmos lugares e em dia imediato às festas dos impérios, dos padroeiros das freguesias e festas de Santo António, onde o povo à margem da Igreja, se cotiza para as realizar.
Independentemente desta há as ocasionais promovidas por um indivíduo ou grupo de indivíduos, moradores em determinado lugar.
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Como número de toiros corridos é de quatro e a duração de tempo para cada um, é de meia hora.
Do segundo para o terceiro toiro, há um intervalo de meia hora e de toiro para toiro, de um quarto de hora.
As touradas começam às quatro da tarde, hora solar, e terminam ao pôr do sol.
Para o pagamento das despesas com as touradas tradicionais -aluguer dos toiros, licenças, jantar dos pastores, foguetes e outras verbas - o dinheiro é dado pelas comissões promotoras das festas, cujas receitas, afinal, provêm de donativos do povo da freguesia, para a realização das mesmas.
Para as touradas ocasionais, reúnem-se diversos indivíduos, que se cotizam entre si, quando não são por um só indivíduo geralmente terceirense rico que vem da América, de visita à família.
As touradas de fama, onde são corridos toiros escolhidos a capricho das melhores criações da Ilha.
Dá-se o nome de arraial ao lugar circunscrito para a tourada.
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A extensão é curta, pois em poucos casos excede quinhentos metros lineares e assim tem de ser para não cansar muito o toiro.
Muito antes da corrida, começam a chegar mulheres para tomar lugar nas janelas, muros e balcões das casas para onde foram convidadas.
Cerca da uma hora da tarde chegam os toiros. Há alguns anos duas ou três vacas enchocalhadas - vacas de sinal - com um avanço de cinco minutos, seguiam adiante para anunciar aos transeuntes, que atrás vinha manada de gado bravo à solta.
Os toiros apartados num curral da criação, saiam para a estrada acompanhados de vacas bravas com chocalhos ao pescoço e de pastores, uns atrás, outros adiante, seguidos dos cães de pastor, animais muito ligeiros que prestam enormes serviços no ajuntamento ou tresmalhe dos toiros.
Caminhavam devagar, mas, quando entravam nos povoados, acelerava-se um pouco a marcha para os toiros se não espantarem e tresmalharem à vista das pessoas que apareciam pelas janelas e balcões.
Ao entrarem no arraial, essa marcha convertia-se numa autêntica corrida até chegarem ao toiril, ou seja um lugar reservado, em cerrado ou boca de canada, todo rodeado de armação de tábuas onde se encurralava o gado.
No toiril havia um caixão, recinto onde embotavam o animal e lhe amarravam a corda ao pescoço pelo sistema de laçada.
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Hoje os toiros vêm metidos em caixões que são transportados em camionetas e postos em determinado local.
Todo o trabalho assim se simplifica, como é menor o perigo da fuga de algum animal.
Como quer que seja após a chegada dos toiros, o arraial povoa-se mais e mais.
Caminha-se pela estrada, pelo terreiro ou pela canada aos encontrões.
Ranchos de raparigas garridamente vestidas, alegram as janelas, varandas, balcões e muros das casas, como festões de flores.
Os rapazes fazem-lhes frente, falam-lhes de boca pequena e dizem galanteios.
Vendedores ambulantes com cestos de asa, em ambos os braços, vendem tremoços, milho e favas torradas, amendoim e pevides apregoando "Olha a fava nova!... Quintinho!... Olh'ós salgadins! ... "O movimento é intenso e as vendas - de grossos paus dispostos verticalmente a meio das portas, para não deixar entrar o toiro, estão pejadas de gente.
Há tascas improvisa
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Mas isso não importa e ao grito de "íamos dentro" a tasca mais e mais se enche ao passo que o tasqueiro não tem mãos a medir para encher os copos de vinho de cheiro.
Um foguete atirado do toiril, anuncia que se vai proceder à embolação.
Depois de amarrado o toiro, a corda sai por uma fresta do caixão e os homens da bolsa, começam a estendê-la para um dos lados do arraial em todo o seu comprimento.
Pouco depois um foguete anuncia que vai sair o toiro.
Toda a gente se dispersa atabalhoadamente, encontroando-se, empurrando-se, caindo.
Uns trepam pelos buracos das paredes de pedra solta procurando poiso no cimo destas; outros escalam muros, outros refugiam-se nas vendas, nas tascas, ou na maior parte, procuram os extremos do arraial.
Apenas alguns rapazes já graúdos se deixam ficar no caminho, a certa distância do toiril para verem mais de perto a saída do bicho e poderem capeá-lo.
Então abre-se a porta do caixão e um grande alarido anuncia a saída da alimária, que, numa correria veloz leva adiante de si toda a gente que se encontra no caminho, fazendo igualmente deslocar-se, numa fuga desordenada a massa dos pacatos que na extremidade do arraial se dispunham a ver sossegadamente a corrida ao longe.
Atrás segue a outra massa dos pacatos, da extremidade oposta, que deseja ver o que se passa adiante.
Então o toiro pára e em volta faz-se um terreiro, onde apenas um ou outro mais audaz se afoita a passar correndo em frente ao toiro arremedo de toureiro pelintra; mas precisamente, quando o animal se dispõe a arremeter, logo outro, abanando um casaco o distrai da primeira arremetida e assim por algumas vezes até que o animal toma a querença.
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Os pastores do meio da corda tentam puxar a rês, que já não obedece aos acenos dos que a provocam.
Limita-se a escavar e a rugir, de língua de fora e baba pendente dos beiços.
Então apresenta-se um homem de guarda-sol aberto e cita a alimária a uns metros de distância.
É a sorte de guarda-sol.
Esquiva-se o homem à arremetida, enquanto o toiro desperto, voltando-se em sentido contrário àquele em que ia, leva atrás de si o que era a vanguarda e adiante, o que era a retaguarda, com o que se não contava.
Os homens da bolsa viram a mão e procuram refúgio numa venda ao passo que os do meio da corda se atiram contra as valetas de bruços, à míngua de outro abrigo mais seguro e todos na ânsia enorme, desaustinada, do salve-se quem poder, correm desordenadamente.
Há cambrelas e basta um cair para muitos outros também caírem.
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Para as mulheres e para quem está em lugar seguro, há estridências de riso, gargalhadas, vaias, assobios, em esgares de contorsões alvares, mormente quando algum se levanta esfarrapado de bragas à mostra nos fundilhos das calças.
O toiro pára novamente, atónito, ofegante, esbaforido e reverte-se novamente à crença, como eles dizem.
Das portas, das vendas, dos balcões, das varandas, das janelas, atiram-lhe com trapos velhos, batem as palmas e gritam: "Ê toiro"!
O círculo de gente à volta da rês vai apertando, na confiança de animal cansado.
Alguns aproximam-se em corrida veloz e tocam-lhe num galho; outros dão-lhe palmadas na nuca.
Então um pastor do meio da corda, farto de ver "acanalhar o toiro", tenta pôr a corda sobre o lombo do animal e esticando-a atira-lhe uma vardascada violenta que o desperta.
O toiro desperto pela chicotada arremete furioso e lança-se como um raio sobre a multidão enquanto que a corda desenrolando-se e esticando-se pela violência da corrida, atira com uns tantos incautos de encontro à parede ou ao chão em quedas espectaculares, tremendamente ridículas.
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Na frente não se contava com a corda falsa nem com este arranque formidavelmente súbito, e um dos fugitivos é colhido e esfrangalhado pelo animal.
Das janelas, balcões e varandas, as mulheres soltam gritos de pavor, numa ânsia de pânico e da multidão levanta-se um clamor imenso.
Homens afoitos correm para o toiro, pegam-lhe de cerneira e conseguem tirar a vítima das hastes do boi, enquanto que outros se agarram ao rabo e à cabeçada da corda para não o deixar arremeter.
Estas colhidas, se na maior parte das vezes são cómicas e até ridículas, outras transformam-se em autênticas tragédias, chegando-se a tirar debaixo do toiro um moribundo ou um cadáver, ao passo que muitos têm sucumbido de lesões adquiridas nestas colhidas.
Mas tais acidentes, trágicos que sejam, não impedem a continuação da tourada e o toiro livre da pega forçada, lá continua a carreira, levando na sua frente uma multidão e arrastando outra.
Por vezes, investe contra a parede de um cerrado, pejada de gente e guinda para a parte de dentro, estabelecendo pânico e confusão.
Uns saltam para fora, e outros inadvertidamente para o cerrado onde o toiro, em campo largo, arremete furiosamente contra tudo e todos, até que o tiram dali, à força de o puxarem pela corda.
Novamente no arraial continuam
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Um foguetão anuncia a recolha do cornúpeto, enquanto cá fora, no arraial o povo comentando as peripécias da corrida diz: "É um bicho de ruspeito"!
Para os restantes toiros os factos repetem-se, mas, a corrida continua com o mesmo interesse e euforia.
fonte (Maria Alice Dias, in "Ilha Terceira", 1982)
in açores.com
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Gentileza do amigo António C.
Wikipedia
JJ edição fotos
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